o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
domingo, 1 de março de 2009
O CERCO DA CULPA
Vivemos cercados e obcecados pela culpa. Transferí-la para as ideologias que as Igrejas usaram para nos subjugar é repetir o óbvio. A humanidade já avançou muito em alguns aspectos, quebrou e criou paradigmas, mas a culpa e o sentido do pecado permanecem, teimosamente, incrustados nas nossas neuroses, as tolas e as verdadeiramente nocivas.
Paradoxal à urgência de aceitação da diversidade cultural com seus variados costumes, a necessidade de ser mais tolerante com as diferenças, a multipliplicidade de variáveis embutidas nos conceitos de certo e errado, o ser humano continua premido pela "cultura da culpa"
Algumas sociedades européias mais modernas já aceitam e discriminalizam uso de drogas até então consideradas ilícitas e habitos sexuais fora dos padrões considerados "normais", graças à militância de grupos que lutam pelos direitos humanos, com ênfase nas liberdades individuais.
Entretanto, estes novos conceitos de normalidade e a delimitação dos limites de transgressão e licitude colocam o homem diante de um novo desafio: o que fazer com a liberdade e como usá-la sem extrapolar os limites da ética e da moralidade. Não vou entrar aqui em conceitos psicológicos e antropológicos, da necessidede humana de autorregular-se Mesmo neste cenário propício à relativazação das certezas, a culpa permeia nosso cotidiano. Sentimos culpa por tudo: por comermos tres vezes ao dia, por sermos felizes, mesmo que de vez em quando, por não querermos conviver com quem não mais amamos, por querermos mais espaço, por utilizarmos nosso tempo com cuidados com nosso corpo, quando nossas almas continuam "pecadoras", por termos medo de crianças de rua, como se, somente nós fôssemos culpados por estarem abandonadas, por não termos uma religião oficial, cuja visão antropomórfica de um deus de barba e dedo em riste, apontaria nossas fraquezas e decidiria nossos destinos. Enfim, a culpa é a nossa mais fiel companheira. Nem vou falar dos filhos, porque se começar a listar os horrores de que nos acusam e nos quais acreditamos, escreveria um livro.
Estou numa fase de balanço, no dificil e desgastante exercício de rever minha história pessoal. Descobrí-me a única responsável por tudo que sou e que gostaria de ter sido e não fui. Nesta óbvia conclusão, isentei dezenas de pesssoas que, certamente, até hoje, arrastam correntes com elos feitos de culpa por minhas derrotas, por minhas desistências, por meus erros. Não aconselho a ninguém fazer esta retrospectiva. Se tiver a firme intenção de ser honesto, sem estar devidamente preparado para e carregar o peso de assumir as consequências de ser protagonista e antagonista de si mesmo, desista! Quanto a mim, foi dificil, mas valeu a pena. Minha relação com as pessoas amadas mudou ao mesmo tempo em que descobri poderes para, se for o caso e ainda restar alguma coragem, mudar o rumo da minha história. O maior ganho pessoal desta jornada é livrar-se, mesmo que seja aos poucos, daquela companheira "fiel", silenciosa e sorrateira, que metamorfoseia-se de milhares de outros sentimentos, que deformam nossas reflexões, contaminam nossas relações e distorcem e nossa visão da vida. Até por questões práticas, temos que nos convencer que o passado é imutável. Crendo nisto, percebemos que todas as pessoas, até as que dependem de nós, vivem fazendo escolhas e nem sempre levam em consideração a repercussão delas nas nossas vidas. Nem por isso são más, ao contrário, são saudáveis e necessárias! São elas que fazem com que a vida não pare, os sentimentos não se esgarcem, as amizades não terminem, os amores não adoeçam e as paixões fluam. Despindo-se das culpas, das devidas e indevidas, aflorará em nós um sentimento de compaixão, que, aliás, só sentimos pelos outros, que fará com que reconheçamos nossa condição humana, portanto passível de erros, omissões e acertos. E aí vem o melhor da história, livramo-nos dos arrependimentos, prima -irmã dela, a culpa!
Deletemos do dicionário do nosso cotidiano a palavra "arrependimento" e sem ela, convivamos de forma mais saudável com os pecados: o original de Adão e Eva, os Capitais que são sete e, tirando o "Não matarás" e o "Não roubarás" os Dez Mandamentos também! Quabremos a Tábua de Moisés e, com seus cacos escrevamos nosso próprio código e readquiramos o legitimo direito de errar.
Todas as maçãs que Lilith, generosamente, nos presentear, morderemos com gula e volúpia!
Seremos expulsos do nosso Paraiso pessoal, só conseguiremos comer com o suor dos nossos rostos mas, com certeza, podemos, sem culpa, tomar sol, andar na chuva, pisar na lama, meter o pé jaca, dormir o dia todo e, mesmo acordando de ressaca, nos sentirmos "limpos" e leves
Alice Rossini
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6 comentários:
Nossa, esse tema é realmente preoculpante. Atire a primeira pedra quem não vive atormentado pela tal da culpa. Achei a abordagem super interessante e a proposta de repensar sobre o tema mais interessante ainda.
Amei
Alice
Parabéns pela descaração de tirar máscaras e colocar a cara na rua...o blog está instigante e lindo! Sobre a culpa, fico me questionando quando nós (humanos?) não precisaremos mais de tantos artifícios para suportar a liberdade... grande abraço.
Parabéns pela fluidez ao falar de coisa tão instigante!
Qual de nós, pobres mortais não se vê corroído de culpa em tantas situações vividas?
O negócio, minha cara, é tentar pegar leve com a vida, para ver se algumas coisas se transformam....
Um banho de chuva, um enorme sorvete numa tarde quente, borbolhas de champanhe para comemorar não importa o que, e muito, muito riso, nem que isso signifique pouco siso!!!! Beijos, Beth Rossini
Amiga,
Me achei no seu texto!
Acho reconfortane se enxergar nas suas divagações sobre os mais variados temas.
beijo
Amiga,
Me achei no seu texto!
Acho reconfortante me enxergar nas suas divagações sobre os mais variados temas.
beijo
oi, meu bem, tb deixei comentário q não ficou registrado; tb elogiei
marcos, novo articulista!
como sou peba em internet, acho q foi o motivo...
bj,
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